Não tem nada a ver esquecer de revisar a tese.
Na revisão de textos científicos, deparamo-nos com uma série de lapsos e outra de dúvidas dos autores sobre questões simples. Expressões da linguagem oral, registradas das entrevistas, devem ser transcritas com cuidado. Ter a ver ou ter a haver é um desses casos.
Essas expressões – populares e da linguagem falada – registradas muitas vezes incorretamente, prejudicam quem não as conhece da maneira correta e deixa de cabelos em pé quem conhece bem e presencia tal erro de grafia. Refiro-me às expressões “ter a ver” ou “ter a haver”, tão correntes na boca do povo e com frequência corrigidas pelos bons revisores de plantão.
![]() |
Escolha com antecedência que vai revisar seu artigo científico. |
Uma só letra, neste caso o “h”, faz uma imensa diferença de significado em uma oração, e por menor que seja, desencadeia uma série de equívocos semânticos. O problema acontece geralmente porque “haver” e “a ver” são parônimas (têm sentido diferente, mas formas semelhantes) e, além desse pormenor, são homófonas, ao passo que produzem praticamente o mesmo som!
Antigamente a expressão “ter a ver” era constituída pela preposição “que” ao invés da preposição “a”, formando a expressão “ter que ver”, diferença essa que não provocava a atual semelhança e consequentemente o erro. Provavelmente incorporamos a maneira francesa de se falar, talvez um caso de eufonia, buscando deixar o som mais “agradável” para os falantes.
Vamos então esclarecer de uma vez a confusão:
- A expressão ter a ver, usada também na forma negativa como “não ter nada a ver”, vem seguida pela preposição “com” e é usada no sentido de “ter relação com”.
- A expressão ter a haver tem sentido de “ter a receber”, ter algo como crédito. A expressão ter haveres, por sua vez, significa ter bens, riquezas, crédito.
Portanto, a expressão “não ter nada haver” é incorreta. Devemos empregar a expressão “não tem nada a ver” sempre que quisermos referir que algo não está relacionado e não diz respeito a alguma coisa, não ser do interesse de. Porém, se o uso fizer referência a um crédito, o uso indicado é o “ter a haver” no sentido de ter algo a receber e, claro, sempre com a preposição “a” e nunca sem ela ou com a preposição “em”.
Nós temos muito a haver com nossos clientes, pois já efetuamos todas as entregas. (adequado)
Marta não tem nada a haver. (adequado, usado no sentido de “não ter nada a receber”)
Eu tenho uma quantia em haver com você. (inadequado)
Agora voltemos à expressão “ter a ver”, que faz parte da confusão, de uso muito frequente no cotidiano das pessoas e que, portanto, deve ser esclarecida quanto à maneira adequada de escrevê-la, pois é algo simples de se memorizar e, além disso, é um tipo de erro que de maneira nenhuma será admitido em textos sérios como teses, dissertações e trabalhos acadêmicos em geral!
Observe alguns exemplos do caso:
- Menino, o que você tem a ver com os problemas alheios? (adequado)
- Márcia não teve nada a ver com o acidente no trabalho. (adequado)
- Logo percebi que este assunto tinha tudo a ver com minha família. (adequado)
- Todo problema na escola tem sempre a ver com você! (adequado)
- Isso não tem nada a ver com minha ideologia de vida. (adequado)
- Não dê ouvidos, o que ele diz não tem nada haver. (inadequado)
Mas, agora, preste atenção! Na língua portuguesa, podemos encontrar a forma “nada haver”, não constituindo uma expressão com significado fixo, mas a união do advérbio nada + verbo haver.
Seguem os exemplos:
- Por nada haver para fazer, decidi passear com o meu cachorro.
- Acabei não escolhendo por ele nada haver dito sobre a sua preferência.
- Para o exercício de física tem que haver somente uma solução.
Fique sempre de olho e busque evitar gafes como essa! Mas caso queira ter certeza da qualidade de um texto, um bom revisor sempre ajudará a eliminar situações e erros do tipo, muitas vezes não identificados por quem o redige.